A África Subsaariana sofre com persistentes desafios relacionados à segurança, e os países do Sahel, como Burkina Faso, Chade, Níger, Mauritânia e Mali, são particularmente afetados por conflitos prolongados e crises humanitárias.
Embora vários fatores possam alimentar o conflito, nosso estudo mostra que o descontentamento com as instituições do Estado entre os grupos marginalizados é um dos principais fatores de agitação na região. Essa desconfiança reflete a percepção de que os governos não conseguem lidar com questões de equidade e com o crescimento inclusivo, designadamente a alocação justa de recursos naturais e o desenvolvimento do capital humano.
As falhas institucionais agravam a sensação de exclusão, com algumas pessoas ou grupos sendo privados sistematicamente de direitos, oportunidades ou recursos que podem estar disponíveis para outros segmentos da população. Isso favorece o conflito ao solapar os princípios da justiça e da inclusão, vitais para o desenvolvimento sustentável.
Como mostra o Gráfico da Semana, os conflitos de modo geral se concentram perto das fronteiras nacionais, onde os serviços públicos tendem a ser mais limitados ou insuficientes, o que promove a sensação de exclusão. Esses locais propensos a conflitos representam riscos substanciais à segurança e à estabilidade tanto nos países diretamente afetados quanto nos países vizinhos.
Entre os exemplos de conflitos com efeitos que poderiam atravessar fronteiras, cumpre mencionar a recente guerra civil na Etiópia e os conflitos de longa duração no Sudão do Sul e na República Centro-Africana, assim como os conflitos motivados pelo extremismo no Sahel e no norte de Moçambique.
Nossa análise das condições em todos os países da África Subsaariana de 1990 a 2022 explora o importante papel da exclusão social, política e econômica na geração de conflitos, expresso pelo nosso novo índice de exclusão. Nosso estudo se destina a ajudar as autoridades a atravessar as complexidades da região e, por sua vez, melhorar a vida das pessoas.
Destacamos como a mitigação de conflitos violentos exige uma abordagem abrangente para tratar de várias formas de exclusão. Promover relações entre o Estado e a sociedade que garantam a justiça e a prestação equitativa de serviços públicos é fundamental para estabelecer condições para uma paz sustentável e coesão social.
A pobreza e o subdesenvolvimento, por si só, talvez não alimentem o conflito. Contudo, esses fatores subjacentes são agravados pela experiência ou percepção da exclusão social e econômica, o que se transforma em um terreno fértil para o surgimento de grupos armados e, assim, tornam urgente uma intervenção.
A exclusão e a desconfiança em relação ao governo não são as únicas causas dos conflitos, que também podem ser alimentados pela mudança climática e pela insegurança alimentar, entre outros fatores. Além disso, as terríveis repercussões da crise de segurança, combinadas com esses desafios, ressaltam a necessidade urgente de assistência humanitária e a necessidade imediata de melhorar a qualidade e a eficiência dos gastos com segurança, bem como de combater o financiamento do terrorismo. Contudo, esses esforços podem ser insuficientes caso o problema da exclusão não seja tratado ao mesmo tempo.
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Hany Abdel-Latif é economista e líder da equipe de previsões imediatas do Departamento da África do FMI. É também pesquisador do Fórum de Pesquisa Econômica e membro da Higher Education Academy. Antes de ingressar no FMI, trabalhou como professor assistente na Universidade de Swansea, no Reino Unido. Seus estudos abrangem uma ampla gama de questões macrofinanceiras, em especial os impactos dos choques nos preços do petróleo e dos choques relacionados a riscos geopolíticos. É doutor pela Swansea University e mestre pela City, Universidade de Londres.
Mahmoud El-Gamal é professor do Departamento de Economia da Rice University, onde ocupa a cadeira de Economia, Finanças e Gestão Islâmica. Antes de ingressar na Rice em 1998, foi professor associado de Economia na Universidade de Wisconsin em Madison e, antes disso, professor assistente de Economia no Instituto de Tecnologia da Califórnia e economista no Departamento do Oriente Médio do Fundo Monetário Internacional. Durante duas curtas licenças da Rice, atuou como primeiro acadêmico residente em Finanças Islâmicas no Departamento do Tesouro dos Estados Unidos (2004) e como diretor acadêmico em sua alma mater, a Universidade Americana do Cairo (2014–2015). Já publicou vários artigos sobre finanças, econometria, ciência da decisão, economias do Oriente Médio e lei de transações islâmica.
Extraído de https://profiles.rice.edu/faculty/mahmoud-amin-el-gamal.